Violência Incontrolável. Correio 17/08/13

Infelizmente, a sociedade só é induzida a pensar diferente quando sofre, agredida por violência física e econômica. Não consegue se antecipar e resolver os conflitos sociais de maneira racional, que seria o aumento de produção e a partilha desses direitos. Isso acontece, não por arrogância, mas porque os cidadãos acreditam na ordem social presente e não tem visão relativa, que poderíamos chamar de justiça, ou seja, se acham em seus plenos direitos e tem dificuldade de entender e abrir mão deles, mesmo que sejam privilegiados em relação aos demais, até que, aqueles que sobrevivem mal, transgredindo, demonstram o contrário, ameaçando-os. Entretanto, uma prova de fé, todos aprovam os manifestos de rua, sejam privilegiados ou não, mas de forma pacífica, pois a manifestação violenta ameaça. É inegável que o manifesto mais forte que retrata a realidade, daí ser o mais dramático e marcante, é o da violência, não o pacífico. A violência não nos pergunta se a aprovamos ou não, simplesmente acontece atropelando tudo. Mas, vamos refletir, a violência cotidiana, que é da mesma natureza da dos manifestos, tem acontecido já há muito tempo e tem crescido na medida que o país não aumenta a riqueza produzida devido a ordem anacrônica presente. Ela é irracional e vem da população mais pobre e ignorante, por isso indefesa para sobreviver no clima de escassez de oportunidades. Violência que ela aprende nas suas várias formas: violência de uma sociedade que oferece mas não deixa ter, violência da escassez de alimentos, saúde, violência policial, pela habitação em favelas, barracos em morros e beiras de rios, em meio a esgotos e lixos, pelo desespero e humilhação em filas de hospitais e finalmente pelo confinamento em prisões. Ainda é violentada pelos maus exemplos dos que detêm o Poder. Nesses últimos 20 anos, pelo menos, ela tem aumentado e negado tacitamente os discursos ufanistas dos governos que dizem que tudo está bem. O atual nos diz que não faltam empregos, que acabou com a pobreza e outras besteiras que somos obrigados a ouvir, insistentemente, convencendo a muitos que é verdade. Bem no estilo do discurso sedicioso de Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Hitler: “uma mentira contada mil vezes, torna-se uma verdade”. E que se contrapõe a outro que diz “se pode enganar a muitos por muito tempo, mas não todos por todo o tempo”. Até porque, a mentira gera fatos destruidores que se impõem por si só, independentemente de nossas crenças, direitos e vantagens, como está acontecendo e tem acontecido na história. Infelizmente, a população que sobrevive bem tem sido insensível ao grito da população desassistida vendo na sua violência um caso de maldade humana que deve ser punida com repressão e apoiando, inconscientemente, o aumento de Poder e consequente gastos fantásticos com repressão e prisões, que, finalmente, aumentam a violência.. E, devemos ficar alertas, porque a violência das ruas não foi acompanhada de rebeliões nas prisões onde estão represados grandes níveis de agressividade. Prender gera o exército do PCC e outras organizações que crescem sem parar, e já mostraram o que podem fazer. Nas ruas, a violência se organiza. Como resposta aos manifestos da violência, as policias, que se dizem ofendidas e desrespeitadas, ossos de seu oficio, desejam mais poder para revidar. E serão autorizadas porque a sociedade se sente acuada. Mas, como vimos, ela já abusa sem poder e, podendo, não terá freios, ainda mais porque também há policiais desonestos. A violência vai se radicalizar. Até o papa Francisco discursou: o mundo está se embrutecendo e continuando assim todos perderemos! O Correio Popular de 29/05/13 registra que houve crescimento nos casos de latrocínio, furto comum, roubo de veículos, roubo a bancos, estupro, tráfico e roubo de carga. O clima de ameaça que vivemos também provoca doenças emocionais como intolerância, pânico e outras que se refletem em violência no trânsito, trabalho e em casa. É hora de se deixar de lado a indignação e o clamor para a punição em cadeias, como essa aberração da diminuição da idade penal, e sentir medo, muito medo, porque a violência radicalizada é incontrolável com consequências imprevisíveis. Socorro, salve-se quem puder! Lembrando como iniciei este artigo, o sofrimento abre a cabeça para novas idéias e aceitação de nova ordem, e que certamente não virá do poder estabelecido, mas da sua negação.

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