Medicina e o Erro Médico08_06_13

É trágico: o maior desastre no Brasil é que se morre mais por falta de atendimento médico que por erro médico. Tal deficit deriva, inicialmente, dos altos preços artificiais da medicina, a partir das faculdades, o que escasseia a oferta de médicos. Em Campinas foi lançado um novo curso ao preço de R$ 6700,00 por mês por 6 anos, e medicina tem currículo tão extenso que exige período integral o que impede que o estudante trabalhe para custear seus estudos; astronômico comparado com engenharia, que custa R$ 722,00 mês, período noturno, por cinco anos, por exemplo. Então, só alguns podem cursar medicina e só poucos podem comprar serviços médicos tão caros. Lembrar que a faculdade pública responde por menos de 50% das vagas, porcentagem que deve cair com o avanço das particulares e estagnação das públicas. Na raiz de todos os problemas da medicina está a legislação, ou seja, a tutela estatal, cuja maior exigência é hospital médico ( hospital escola) impeditivo para criar-se faculdades de medicina e que torna os custos dos cursos existentes astronômicos. Basta ver o enorme e custoso hospital da Unicamp que existe em função de sua escola de medicina. E a justificativa para essa exigência é que em medicina se mexe com vidas, exige qualidade. Ora, muitas profissões mexem com vidas, mas não há exigência similar. Nelas o estudante se forma, se emprega em treinamento nas empresas, adquire experiência sob supervisão de um profissional e se torna profissional efetivo. Isso acontece, por exemplo, em engenharia que constrói hidroelétricas, transformadores de alta tensão, prédios, aviões e navios, todos que tem grande responsabilidade sobre vidas, ou com motoristas de ônibus urbanos que tem sob suas mãos milhares de pessoas dentro e fora dos ônibus todos os dias. O que se percebe dessa exposição, é que a exigência de hospital médico e currículo extenso, ao invés de salvar, ceifa vidas. Como parte de toda essa engrenagem se estabelecesse que a Saúde é dever do Estado o que, obviamente, ele não pode cumprir, primeiro pelos custos astronômicos, que ele mesmo provoca, e segundo pelas limitações orçamentarias de implantação e gestão. Mas não são os únicos problemas da legalidade: - na medicina não há estratificação que poderia baixar custos e melhorar a oferta de atendimento médico como há em eletricidade onde há eletricista, técnico e engenheiro eletricista, cada um em seu nível de competência, todos atuando em vários ramos: eletrônica , eletrotécnica, etc - Foram criminalizados ao invés de aperfeiçoados os serviços de parteiras e médicos práticos, que são profissões antigas, e os farmacêuticos, que prestavam serviços imediatos a população - As carreiras de enfermagem, auxiliares, técnicas e nível superior, são mantidas ainda na tradição de meras cuidadoras, com profissionais amedrontados em fazer qualquer atendimento que implique em diagnóstico, mesmo emergencial, mesmo que lidem todos os dias com os problemas - Ainda dificulta o exercício de médicos estrangeiros. E como se vê no lamentável acidente na clínica Ressonância Magnética Campinas (RMC) do Hospital Vera Cruz, há erros na esfera médica, embora, pelo noticiado, foi mais erro administrativo que médico, motivados pela coincidência de três fatores: novata agindo, embalagem pouco diferenciada, identificação ruim e mesmo local de armazenamento. Mas, erros médicos existem e são cometidos por quem faz. No Brasil se erra pouco porque se faz pouco. E o RMC fez milhares de tomografias com contraste de forma segura e é tido como referência. Assim, eu entendo que transformar esse acidente eventual em um caso de polícia em que se investiga com caráter de dolo e que se ameace com prisão de 30 anos é um absurdo contumaz e que de fato vai contra os interesses da sociedade pois a consequência já percebida em outras experiências é que tal mecanismo provoca o encarecimento e a omissão no atendimento. No EUA, onde a caça ao erro médico se tornou febre, castigado com indenizações milionárias, conseguiu-se estagnar o já escasso atendimento médico. Outro efeito perverso da investigação para punir mais que corrigir é que os agentes tendem a esconder seus erros e não a divulgá-los o que impediria outros de cometer os mesmos erros. A Saúde é essencial e envolve toda a sociedade, portanto a discussão não pode ficar circunscrita aos órgão de classe médica e governo, mas deve envolver todas as entidades civis representativas tendo como objetivo não o dever do Estado de garanti-la, mas como a participação do Estado impede o desenvolvimento da Saúde.

Nenhum comentário:

Postar um comentário